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Enquanto benfiquista que acredita na gestão rigorosa como alicerce para o sucesso desportivo, é encorajador ver o nosso clube contratar profissionais de excelência para a sua estrutura. Da mesma forma que tentamos contratar os melhores jogadores para o plantel, temos que recrutar os melhores gestores para a administração. É, por isso, com grande satisfação que observo a entrada de Nuno Catarino, um profissional com provas dadas, para o papel de administrador financeiro da SAD.

Embora as novas responsabilidades sejam, certamente, entusiasmantes, a realidade que enfrentamos é complexa e o estado de graça do novo CFO será inevitavelmente curto. O Relatório e Contas publicado esta semana contém uma série de sinais de alerta que não podemos ignorar. A dívida líquida está a subir de forma preocupante e o passivo aumenta a um ritmo insustentável. Todos sabemos que, no próximo ano, as contas serão positivas, graças às vendas de jogadores realizadas no mês passado. Apesar disso, o cenário global deixa muito a desejar.

Contrariamente a alguns dos nossos adversários, não estamos sob a alçada do fair play financeiro, nem em situação de pré-bancarrota. Não precisámos, tampouco, de perdões bancários milionários para alcançar a estabilidade. Mesmo assim, o caminho que estamos a trilhar não deixa de ser preocupante. O aumento da dívida bancária, que mais do que duplicou nos últimos quatro anos, resultou no pagamento de 21,8 milhões de euros em juros, um sinal claro de que o Benfica está a viver acima das suas possibilidades.

Excluindo as transações de atletas, o Benfica teve, no exercício passado, um resultado negativo na ordem dos 90 milhões de euros. Isto significa que, para evitar prejuízos, o Benfica precisa de assegurar duas grandes vendas por mercado. Em outras palavras, atualmente, necessitamos de vender quase dois talentos como João Neves por época. E, infelizmente, todos sabemos o quão raros são talentos como o João.

O Benfica precisa de uma mudança de paradigma do ponto de vista financeiro. O que começou como uma situação conjuntural transformou-se num problema estrutural, que requer uma ação imediata e decisiva.

O único modelo financeiro sustentável passa por um equilíbrio entre as receitas operacionais e as despesas operacionais. A venda de jogadores é uma receita extraordinária, pois o objetivo de um clube é vencer e não vender. Se queremos mais sucesso desportivo, temos de conseguir manter os nossos talentos por pelo menos três anos. Na situação atual, temos 12 meses para mudar de modelo e evitar mais vendas futuras.

O novo paradigma deve garantir que as vendas de jogadores apenas servem para cobrir receitas operacionais em circunstâncias extraordinárias, como a não participação na Champions League. Nos outros anos, esse valor deve servir para reduzir a dívida e fazer investimentos com um plano sólido para modernizar e expandir infraestruturas, como o Seixal e a Cidade das Modalidades. O que há a fazer não é popular, mas é necessário: reduzir os custos salariais do plantel e os valores das novas contratações, bem como renegociar os nossos principais contratos relativos à manutenção do estádio e segurança.

É preciso garantir que, nos próximos anos, o Benfica volte a ser não só um exemplo de sucesso desportivo, mas também de rigor e excelência na gestão. Estamos todos com o novo CFO nesta missão: o seu sucesso será o sucesso de todos os benfiquistas.